quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Ser ou Não Ser, Eis a Cura Gay...

Os grotescos homicídios em massa perpetrados pela Alemanha nazista começaram com meras restrições. As ideologias mais perversas, religiosas ou não, sempre se impuseram paulatinamente. A liderança alcançada através do fanatismo possui um modo de agir similar ao dos répteis: é disciplinada e estrategista.
No mundo rasteiro destes humanos a coação se deu em doses progressivas. E os frascos venenosos foram sempre revestidos com o rótulo da boa causa. Às vezes alegaram a superioridade da sua raça ou ideologia; às vezes julgaram-se os eleitos de uma divindade.
A polêmica decisão de um juiz do DF que reconheceu a possibilidade da reversão da sexualidade, considerando via homossexual para a heterossexual, foi movida por uma convicção que amplia a liberdade do cidadão ou contém apelos fascistas?
 Antes de discorrer sobre esta questão é preciso fazer uma análise simplista: A palavra reversão significa retorno, ou seja, volta ao que era desde o inicio. Logo, ninguém poder ser- menos ainda voltar a ser- o que nunca foi.
 Imagino que estes psicólogos favoráveis à “reversão” estejam convictos de que ninguém nasce homossexual, o que equivale: todos os seres humanos são essencialmente heterossexuais. Suposição que não possui fundamento científico; sequer empírico, já que os milhões de homossexuais em todos os continentes, em todas as épocas, nos permitem observar e concluir que se dá justamente o contrário.
Não dá nem para dizer que é culpa da Rede Globo, pois ela não existia quando um dos nossos ancestrais primatas deixou claro que preferia a companhia de outro macho a de uma fêmea que roçava nele insistentemente.
Negar a homossexualidade como uma das várias possibilidades congênitas da nossa espécie é no minimo admitir que a heterossexualidade é extremamente vulnerável a fatores extrínsecos, e, pior, inexplicáveis.
Mas, não se trata de aceitar os fatos ou de negá-los. Trata-se de como os psicólogos irão “reverter” os seus pacientes sem infligir-lhes medo e culpa por sentirem o que sentem. Em crianças e jovens isto poderia ser devastador. Sobretudo, porque todos sabem que muitos grupos religiosos se enriquecem justamente à custa do medo e da culpa alheia.
Voltemos à questão: fez bem o juiz em entender que impedir psicólogos de oferecerem tratamento a eventuais pacientes que acreditem na “reversão” da sexualidade é uma restrição? Sim, fez bem. Desde que alguém, maior de idade, vá dormir hétero e misteriosamente amanheça homossexual, sentindo-se desconfortável com seus inusitados desejos; desde que o “tratamento” não inclua métodos que comprometam a sua saúde física e mental; desde que a “cura” não seja patrocinada pelos cofres públicos... E, principalmente, desde que não seja motivada por grupos que visam privar pessoas de exercerem seus direitos, emoções e afetos, quando não coincidentes com as verdades que pregam.
Do contrário, a sociedade brasileira caminhará para o segundo passo da estratégia.  Ele será a imposição do tratamento. No caso de recusa ocorrerá o segregamento e a humilhação; após, a restrição de direitos, que incluirá a censura, o fechamento de bares, boates, restaurantes...; depois, um pouco mais a frente, se dará a criminalização de todas as práticas consideradas imorais; por fim, a condenação do infrator tanto no céu quanto na terra. Exagero? Talvez... Mas, muitos judeus acreditaram que se abrissem mão de alguns direitos seriam deixados em paz.

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