Se alguém
pedisse a uma criança para descrever o céu provavelmente ela diria que é um
local colorido, cheio de brinquedos e doces; um urubu se pudesse dizê-lo
certamente afirmaria que deve ser um lugar cheio de podridão. Não importa o
quão diferentes sejam o céu e a terra, porque tudo se resume no observador. Por
prudência, melhor não esperarmos ver no céu mais do que vemos na terra.
O meu céu não é eterno, mas breve.
Nele, eu procuraria para uma boa conversa Schopenhauer ao invés de santos e
anjos. Além de admirar o filósofo detesto fila...
Uma reflexão poética, sem deleite. Sopa e
água...
Preciso salvar-me com
urgência!
Desatar-me da demência
que escraviza.
Abolir as carnes; os
vinhos; o desejo;
Ficar cego às
aparências e não incorrer na arrogância;
Limitar o ouvido as
preces; não ceder às tentações;
Esquecer-me do corpo e
dos excessos.
E de resto - do que
sobra- salvar-me...
Mas, e se John Donne
estava certo?
Estarei salvo em algum
céu a deleitar-me com sopa e água,
Trajado em branco e
ouvindo harpas?
Um anjo insípido e
assexuado!
Para isto nos
recomendam tantos esforços?
Preciso salvar-me! Só
não sei das virtudes ou dos vícios;
Mas, se na terra somos
mais corpo que espírito,
E depois da morte não
se sabe,
Por que infligir a cada
prazer um sacrifício?
(John Donne, poeta inglês. Autor de “Elegia”).