quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Sobre o Céu...

         Se alguém pedisse a uma criança para descrever o céu provavelmente ela diria que é um local colorido, cheio de brinquedos e doces; um urubu se pudesse dizê-lo certamente afirmaria que deve ser um lugar cheio de podridão. Não importa o quão diferentes sejam o céu e a terra, porque tudo se resume no observador. Por prudência, melhor não esperarmos ver no céu mais do que vemos na terra.
       O meu céu não é eterno, mas breve. Nele, eu procuraria para uma boa conversa Schopenhauer ao invés de santos e anjos. Além de admirar o filósofo detesto fila...

Uma reflexão poética, sem deleite. Sopa e água...  
  
Preciso salvar-me com urgência!
Desatar-me da demência que escraviza.
Abolir as carnes; os vinhos; o desejo;
Ficar cego às aparências e não incorrer na arrogância;
Limitar o ouvido as preces; não ceder às tentações;
Esquecer-me do corpo e dos excessos.
E de resto - do que sobra- salvar-me...
Mas, e se John Donne estava certo?
Estarei salvo em algum céu a deleitar-me com sopa e água,
Trajado em branco e ouvindo harpas?
Um anjo insípido e assexuado!
Para isto nos recomendam tantos esforços?
Preciso salvar-me! Só não sei das virtudes ou dos vícios;
Mas, se na terra somos mais corpo que espírito,
E depois da morte não se sabe,
Por que infligir a cada prazer um sacrifício?

 (John Donne, poeta inglês. Autor  de “Elegia”).

Um comentário:

  1. Ótima reflexão poética. Ainda somos na terra muito mais corpo que espírito, no entanto, acredito que pós morte teremos a confirmação seca e direta da espiritualidade como forma única e real da evolução do ser. Depois dessa confirmação pós morte sentiremos a nossa estúpida ignorância em preconceituar o ser a partir do corpo, tendo desprezado o ser como espírito em contínua evolução. O prazer é uma compensação para o ser que está em constante aprendizado mas o prazer que traz perturbação futura à consciência do ser é não mais que o sofrimento espiritual na sua forma mais intensa de sentir.

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