segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Moro, o tiro que saiu pela culatra



 
            

             Sérgio Moro acabou se tornando uma espécie de garoto propaganda da Lava Jato. Era óbvia a sua parcialidade nas questões que envolveram  a trupe petista. Todos nós sabíamos que em alguns momentos as investigações extrapolaram limites, no entanto, o fim sublime de estancar a sangria que Lula havia imposto ao país, bem como torná-lo inelegível, justificou a adoção de alguns meios questionáveis. Todo mundo se vestiu de verde e amarelo, todo mundo se vestiu de Moro. Eu mesmo fui até Brasília acompanhar de perto as votações; quis participar de um momento histórico: a nossa “desesquerdização”. Temia que enveredássemos por caminhos menos democráticos com a continuidade petista.
            Moro não começou o desmantelamento da esquerda sozinho. Era óbvio que ele contava com apoio político, o que significava poder. Havia um objetivo claro que era o de colocar um representante da direita na presidência. Os partidos de centro, os que não são e nem deixam de ser não serviriam; teria de ser um assumido. É preciso fazer um parêntese: na época do impeachment da Dilma não ficou tão claro para mim o forte vínculo do movimento com a religião evangélica - se fica, eu jamais teria apoiado- Os líderes evangélicos brasileiros estavam articulando nos bastidores o “pacote”. O nosso liberalismo viria casado com o conservadorismo exacerbado que tão bem os caracteriza. 
            O PT, expoente máximo da esquerda brasileira, rivalizava com a direita na economia e nos costumes. A esquerda é progressista nos costumes e retraída quando o assunto é menos Estado nas questões econômicas; a nossa direita admite o recuo do Estado na economia, mas quer agigantá-lo na vida pessoal do cidadão. É de acabar o tereré de Ponta Porã!
          Eis que surge neste contexto, o Messias. O sujeito branco e rico, representante de uma elite que cansou de ter vergonha de ser elite; que resgata os valores do patriarcado com sua metralhadora imaginária, ao mesmo tempo em que se  deixa batizar nas águas do Jordão.
          Bolsonaro vestiu-se de verde e amarelo e apropriou-se de todo o capital político construido pela Lava Jato; em par com esta jogada ele fez um marketing feroz nas redes sociais, apoiado por grupos religiosos que fidelizaram os votos dos seus adeptos. A cereja do bolo foi a declaração de que Moro seria o seu Ministro da Justiça.
          Ocorre que a metralhadora saiu do controle e o menino meteu as mãos no bolo derrubando a cereja. Moro que restava diminuído retirou-se do governo tentando desacreditar Bolsonaro; a estratégia que o havia consagrado no caso do PT, parece não ter surtido efeito algum no Messias. Moro foi tão minado que é preciso urgente desvencilhá-lo da Lava jato para que ela não afunde junto com ele. 
         Não foi só para Moro que o tiro saiu pela culatra; eu sempre me pego pensando na viagem que fiz para Brasília...Mal sabia que em breve seria forçado a votar em um candidato petista para não votar no Bolsonaro. Fato é que o único tiro certeiro foi o do Messias, em nós...     

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