Finalmente assisti ao filme Florence Foster que no Brasil foi intitulado “Florence – Quem é esta mulher?”. Ele é baseado na biografia de Florence Foster Jenkins, papel protagonizado por ninguém menos que Meryl Streep. Florence foi uma mulher muito rica que fez doações vultosas a casas de espetáculos e teatros; ela patrocinou músicos, diretores, atores... Enfim, ajudou a movimentar a vida artística e social da Nova York dos anos 40.
O
problema é que Florence ficou obcecada com a ideia de se tornar cantora lírica,
embora fosse incrivelmente desafinada. Deixando de lado a comicidade do filme
(em algumas cenas tem-se a impressão de que Streep irá botar um ovo), ficou
patente que o talento é algo que pode ser comprado como qualquer mercadoria.
Tudo é possível quando se tem o dinheiro para pagar- inclusive amor verdadeiro,
segundo Nélson Rodrigues.
Florence
comprou os dois. Tanto a sua inusitada carreira quanto a dedicação de um
incansável marido. O talento é algo relativo, afinal, quem o define? É a
mensagem do filme. Quem diz o que é bom ou ruim em um determinado assunto está
suscetível a aplicar mais brandura ou rigor de acordo com as circunstâncias e
os seus próprios interesses. E nem sempre os nossos interesses são nobres ou
justos. Aliás, justiça cega só se vê em estátuas.
Não
creio que este fato elimine o talento genuíno, mas, entre nós impera a parcialidade. Em alguns casos quem
julga o talento sequer possui conhecimento ou sensibilidade suficientes para
reconhecer uma habilidade especial. No geral, contentamo-nos com porcarias, até
porque são muito mais fáceis de serem consumidas.
É
por isto que livros de autoajuda pra lá de questionáveis que prescrevem a
felicidade (mas, o que é a felicidade?); a liberdade (de novo: o que é ser livre?), costumam vender
mais que grandes pensadores. Estas chatices batidas à exaustão são como um
prato de miojo para o paladar daqueles que desconhecem o sabor de uma boa massa
caseira.
O
filme é bom, não porque traga uma mensagem nova, ou porque nos reporte às grandes
reflexões, mas, principalmente, por contar com atores e atrizes talentosos,
verdadeiramente talentosos. A atuação de Meryl prova que um talento pode passar-se
por um inapto com facilidade, mas, que o contrário, sempre vai depender de
alguma benevolência comprada ou da ignorância. As gravações de Jenkins não
deixam dúvida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário