quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Quanto Vale o Show?


         Finalmente assisti ao filme Florence Foster que no Brasil foi intitulado “Florence – Quem é esta mulher?”. Ele é baseado na biografia de Florence Foster Jenkins, papel protagonizado por ninguém menos que Meryl Streep. Florence foi uma mulher muito rica que fez doações vultosas a casas de espetáculos e teatros; ela patrocinou músicos, diretores, atores... Enfim, ajudou a movimentar a vida artística e social da Nova York dos anos 40.
            O problema é que Florence ficou obcecada com a ideia de se tornar cantora lírica, embora fosse incrivelmente desafinada. Deixando de lado a comicidade do filme (em algumas cenas tem-se a impressão de que Streep irá botar um ovo), ficou patente que o talento é algo que pode ser comprado como qualquer mercadoria. Tudo é possível quando se tem o dinheiro para pagar- inclusive amor verdadeiro, segundo Nélson Rodrigues.
Florence comprou os dois. Tanto a sua inusitada carreira quanto a dedicação de um incansável marido. O talento é algo relativo, afinal, quem o define? É a mensagem do filme. Quem diz o que é bom ou ruim em um determinado assunto está suscetível a aplicar mais brandura ou rigor de acordo com as circunstâncias e os seus próprios interesses. E nem sempre os nossos interesses são nobres ou justos. Aliás, justiça cega só se vê em estátuas.
Não creio que este fato elimine o talento genuíno, mas, entre nós impera a parcialidade.  Em alguns casos quem julga o talento sequer possui conhecimento ou sensibilidade suficientes para reconhecer uma habilidade especial. No geral, contentamo-nos com porcarias, até porque são muito mais fáceis de serem consumidas.
           É por isto que livros de autoajuda pra lá de questionáveis que prescrevem a felicidade (mas, o que é a felicidade?); a liberdade (de novo: o que é ser livre?), costumam vender mais que grandes pensadores. Estas chatices batidas à exaustão são como um prato de miojo para o paladar daqueles que desconhecem o sabor de uma boa massa caseira. 
O filme é bom, não porque traga uma mensagem nova, ou porque nos reporte às grandes reflexões, mas, principalmente, por contar com atores e atrizes talentosos, verdadeiramente talentosos. A atuação de Meryl prova que um talento pode passar-se por um inapto com facilidade, mas, que o contrário, sempre vai depender de alguma benevolência comprada ou da ignorância. As gravações de Jenkins não deixam dúvida.  

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