domingo, 19 de maio de 2024

Florbela e o Bonde do Tigrão...

   

    A impressão que tenho é que as mulheres sofrem de um jeito mais resignado que os homens, e nisso,  quem sabe, resida uma vantagem...Os homens sofrem de um jeito mais “glutão”, com voracidade, daí a propensão para a imprudência. Com eles me identifico mais...

    Há ainda uma categoria de gente, os poetas, que transformam sofrimento em palavras; essa gente sofre de um jeito calculado, matemático, quase frio (cold song), porque passam do sentido, da sensação, para  a razão. Para escrever sobre o sofrimento não basta ter a  consciência dele, pois é essencial também o controle. 

    Eu vou de Florbela e de Bonde do Tigrão “Elas estão descontroladas, ah que isso?...”

                  

                     Ódio?

Ódio por Ele? Não... Se o amei tanto,
Se tanto bem lhe quis no meu passado,
Se o encontrei depois de o ter sonhado,
Se à vida assim roubei todo o encanto,

Que importa se mentiu? E se hoje o pranto
Turva o meu triste olhar, marmorizado,
Olhar de monja, trágico, gelado
Com um soturno e enorme Campo Santo!

Nunca mais o amar já é bastante!
Quero senti-lo doutra, bem distante,
Como se fora meu, calma e serena!

Ódio seria em mim saudade infinda,
Mágoa de o ter perdido, amor ainda!
Ódio por Ele? Não... não vale a pena...

Florbela Espanca, in "Livro de Sóror Saudade"

sábado, 4 de maio de 2024

Sobre Gêmeos, Primatas, Verdades e Mentiras...

      

     Durante muito tempo achei que tinha dificuldade de falar em público, hoje, no entanto, refleti que talvez este não seja exatamente o diagnóstico...Talvez a dificuldade não seja de falar , mas de mentir em público. Mentir no privado sempre me pareceu natural, ocorre que enganar muita gente ao mesmo tempo me deixa desconfortável. 

     Sou o tipo de mentiroso que só funciona bem no varejo nunca no atacado. Quando há plateia perco o jeito de atuar... Junte-se a isso o fato de que não sei bajular, não sei fingir orgasmos, não sei esconder a carta na manga...Claro que isto não tem nada a ver com virtude, trata-se apenas de uma inabilidade nata. 

    Sou um hominídeo desprovido de uma ferramenta essencial à vida em grupo da minha espécie: a capacidade de mentir para o grupo. Quem “tapeia” poucos é mau caráter, já quem engana muitos costuma se dar bem. Trapacear é uma arte...

 

     Dedico a reflexão poética a seguir a todos os geminianos. A quem não enganamos nunca, porque  com eles, por algum tipo de doce vaticínio, os sagitarianos se permitem ser quem são.

 

Quis est iste Rex gloriae?

 

Passeio pelo Jardim das Delícias;

Vejo taras por todas as frestas;

Embora eles rezem nos templos pomposos,

Vivem a caça de orgias e festas.

Aos “demônios” sempre se entregam,

Regendo-se ao avesso do que pregam;

Não fossem hipócritas e atrozes

Em coro, a Sade, ergueriam as vozes,

E Adorariam a trindade que mais lhes convém:

Sexo, poder e ouro... Amém!

 

(“O Pai é Deus?” -Sim, o Pai é Deus!

“O Filho é Deus?” -Sim, o Filho é Deus!

“O Espírito Santo é Deus? “ -Sim, o Espírito Santo é Deus!)