A impressão que tenho é que as mulheres sofrem de um jeito mais resignado que os homens, e nisso, quem sabe, resida uma vantagem...Os homens sofrem de um jeito mais “glutão”, com voracidade, daí a propensão para a imprudência. Com eles me identifico mais...
Há ainda uma categoria de gente, os poetas, que transformam sofrimento em palavras; essa gente sofre de um jeito calculado, matemático, quase frio (cold song), porque passam do sentido, da sensação, para a razão. Para escrever sobre o sofrimento não basta ter a consciência dele, pois é essencial também o controle.
Eu vou de Florbela e de Bonde do Tigrão “Elas estão descontroladas, ah que isso?...”
Ódio?
Ódio por Ele? Não... Se o amei
tanto,
Se tanto bem lhe quis no meu passado,
Se o encontrei depois de o ter sonhado,
Se à vida assim roubei todo o encanto,
Que importa se mentiu? E se hoje o pranto
Turva o meu triste olhar, marmorizado,
Olhar de monja, trágico, gelado
Com um soturno e enorme Campo Santo!
Nunca mais o amar já é bastante!
Quero senti-lo doutra, bem distante,
Como se fora meu, calma e serena!
Ódio seria em mim saudade infinda,
Mágoa de o ter perdido, amor ainda!
Ódio por Ele? Não... não vale a pena...
Florbela Espanca, in "Livro de Sóror Saudade"