quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Sobre o Céu...

         Se alguém pedisse a uma criança para descrever o céu provavelmente ela diria que é um local colorido, cheio de brinquedos e doces; um urubu se pudesse dizê-lo certamente afirmaria que deve ser um lugar cheio de podridão. Não importa o quão diferentes sejam o céu e a terra, porque tudo se resume no observador. Por prudência, melhor não esperarmos ver no céu mais do que vemos na terra.
       O meu céu não é eterno, mas breve. Nele, eu procuraria para uma boa conversa Schopenhauer ao invés de santos e anjos. Além de admirar o filósofo detesto fila...

Uma reflexão poética, sem deleite. Sopa e água...  
  
Preciso salvar-me com urgência!
Desatar-me da demência que escraviza.
Abolir as carnes; os vinhos; o desejo;
Ficar cego às aparências e não incorrer na arrogância;
Limitar o ouvido as preces; não ceder às tentações;
Esquecer-me do corpo e dos excessos.
E de resto - do que sobra- salvar-me...
Mas, e se John Donne estava certo?
Estarei salvo em algum céu a deleitar-me com sopa e água,
Trajado em branco e ouvindo harpas?
Um anjo insípido e assexuado!
Para isto nos recomendam tantos esforços?
Preciso salvar-me! Só não sei das virtudes ou dos vícios;
Mas, se na terra somos mais corpo que espírito,
E depois da morte não se sabe,
Por que infligir a cada prazer um sacrifício?

 (John Donne, poeta inglês. Autor  de “Elegia”).

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

"O Rio de Janeiro Continua Lindo..."

O Rio nunca esteve no meu roteiro de viagem. Minha falta de interesse pela cidade maravilhosa é muito anterior à guerra pela posse de suas favelas. Nunca fui com a cara do Rio, com a sua energia excessivamente pulsante. Homens e mulheres sarados demais; sexo demais; samba demais; agora, tiroteio demais. Mesmo para alguém que deteste a rotina, o Rio é muito.
Desde a instalação da família real no Rio de Janeiro, em 1808, a cidade passou a ser a favorita do império. Mais adiante o nosso cartão postal. Um dos poucos motivos para um europeu despencar da civilização para este fim de mundo. O Rio com suas belas matas, mulatas, e jovens prostitutas que saem quase pelo mesmo preço de uma replica do Cristo Redentor.   
          Toda violência que assistimos neste momento: criminosos indo de um lado para outro; incontáveis homicídios em razão do controle do tráfico de drogas; latrocínios; estupros; não é um fato específico do Rio de Janeiro, mas ao contrário, é uma tendência nacional. 
           O Rio só continua sendo a nossa vanguarda, como tem sido desde a vinda da família real; cabendo-lhe retratar e realçar as nossas tendências em primeira mão. Não gosto do Rio, mas justiça seja feita, a cidade não é mais do que um superlativo de como funciona, ou não funciona, quase tudo no país. Portanto, não podemos pegá-la para cristo, depreciá-la como querem alguns.
          Se no passado ela foi eleita pelos nobres portugueses para representar a sua essência, na qual se incluíram os conchavos, maracutaias, a leviandade com o compromisso e a ética, a corrupção escrachada, enfim, a imbecilidade de uma corte fanfarrona, mística e bravateira, hoje, a cidade maravilhosa continua sendo esta mesma vitrine. Ela expõe as mesmas coisas pelos mesmos motivos. A diferença é que a corte misturou-se aos nativos e escravos e agora tem endereço no Distrito Federal.
Aquele abraço! 
   
(Este texto foi motivado pelos episódios de incêndios criminosos direcionados aos ônibus  que faziam o transporte coletivo da cidade do Rio. Na época,  o Bruno me escreveu que peguei pesado. Pode ser, mas ele continua valendo... É que os criminosos pegam muito mais.) 

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Segura a Onda...

Só existe uma coisa mais sofrível do que amar sem ser amado: é ser amado por pessoas que não seguram a onda. Embora a nossa espécie seja muito hábil em dissimular sentimentos, as mulheres em especial, alguns deles são difíceis de acobertarmos.  O desejo sexual, a repulsa, a paixão ou o descaso, podem ser facilmente captados.  O que sentimos em nosso intimo revela-se em nossos gestos e expressões corporais, ainda que tenhamos um discurso oposto a eles.
Somos traídos por nossos desejos ou pela falta deles. Assim, observe o outro. Não só o que diz, mas principalmente como diz. As pessoas precisam parar de buscar alguma justificativa para desacreditar o óbvio. Alguns, os mais obcecados, tendem a considerar o menosprezo um tipo de interesse enrustido. Não é!
Menosprezo significa que o outro não dá a minima para você! E vá por mim: quanto mais insistir, pior fica... O menosprezo provavelmente vai virar antipatia. Você será chamado de “chiclete”; de “sem noção”; alcunha dos insistentes de plantão que não fazem ideia do quanto suas investidas são desagradáveis. 
Estes utilizam a renitência como estratégia para alcançar o amor. O amor não se impõe, se conquista! Mas é importante que os meios não sejam indignos para que o fim não seja invalidado. 
Amar sem ser correspondido acontece a todo mundo.Quando constatado, o único remédio é admitir que  é algo natural; que vamos sofrer por algum tempo, mas que há muitas pessoas e possibilidades no mundo. Os nossos sentimentos são nossos! Os outros não têm a menor obrigação de corresponder a eles. É mágico quando dois afetos coincidem, mas é trágico quando forçamos a coincidência.
Não importa quão interessado ou apaixonado você esteja! Se o outro lhe disser reiterados “nãos”, venham eles da boca, dos gestos, do olhar, ou de quaisquer atitudes, ponha a sua viola no saco, dirija-se a uma praia bem animada... Vá surfar! E tente segurar à onda!  

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Ser ou Não Ser, Eis a Cura Gay...

Os grotescos homicídios em massa perpetrados pela Alemanha nazista começaram com meras restrições. As ideologias mais perversas, religiosas ou não, sempre se impuseram paulatinamente. A liderança alcançada através do fanatismo possui um modo de agir similar ao dos répteis: é disciplinada e estrategista.
No mundo rasteiro destes humanos a coação se deu em doses progressivas. E os frascos venenosos foram sempre revestidos com o rótulo da boa causa. Às vezes alegaram a superioridade da sua raça ou ideologia; às vezes julgaram-se os eleitos de uma divindade.
A polêmica decisão de um juiz do DF que reconheceu a possibilidade da reversão da sexualidade, considerando via homossexual para a heterossexual, foi movida por uma convicção que amplia a liberdade do cidadão ou contém apelos fascistas?
 Antes de discorrer sobre esta questão é preciso fazer uma análise simplista: A palavra reversão significa retorno, ou seja, volta ao que era desde o inicio. Logo, ninguém poder ser- menos ainda voltar a ser- o que nunca foi.
 Imagino que estes psicólogos favoráveis à “reversão” estejam convictos de que ninguém nasce homossexual, o que equivale: todos os seres humanos são essencialmente heterossexuais. Suposição que não possui fundamento científico; sequer empírico, já que os milhões de homossexuais em todos os continentes, em todas as épocas, nos permitem observar e concluir que se dá justamente o contrário.
Não dá nem para dizer que é culpa da Rede Globo, pois ela não existia quando um dos nossos ancestrais primatas deixou claro que preferia a companhia de outro macho a de uma fêmea que roçava nele insistentemente.
Negar a homossexualidade como uma das várias possibilidades congênitas da nossa espécie é no minimo admitir que a heterossexualidade é extremamente vulnerável a fatores extrínsecos, e, pior, inexplicáveis.
Mas, não se trata de aceitar os fatos ou de negá-los. Trata-se de como os psicólogos irão “reverter” os seus pacientes sem infligir-lhes medo e culpa por sentirem o que sentem. Em crianças e jovens isto poderia ser devastador. Sobretudo, porque todos sabem que muitos grupos religiosos se enriquecem justamente à custa do medo e da culpa alheia.
Voltemos à questão: fez bem o juiz em entender que impedir psicólogos de oferecerem tratamento a eventuais pacientes que acreditem na “reversão” da sexualidade é uma restrição? Sim, fez bem. Desde que alguém, maior de idade, vá dormir hétero e misteriosamente amanheça homossexual, sentindo-se desconfortável com seus inusitados desejos; desde que o “tratamento” não inclua métodos que comprometam a sua saúde física e mental; desde que a “cura” não seja patrocinada pelos cofres públicos... E, principalmente, desde que não seja motivada por grupos que visam privar pessoas de exercerem seus direitos, emoções e afetos, quando não coincidentes com as verdades que pregam.
Do contrário, a sociedade brasileira caminhará para o segundo passo da estratégia.  Ele será a imposição do tratamento. No caso de recusa ocorrerá o segregamento e a humilhação; após, a restrição de direitos, que incluirá a censura, o fechamento de bares, boates, restaurantes...; depois, um pouco mais a frente, se dará a criminalização de todas as práticas consideradas imorais; por fim, a condenação do infrator tanto no céu quanto na terra. Exagero? Talvez... Mas, muitos judeus acreditaram que se abrissem mão de alguns direitos seriam deixados em paz.

sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Caetano Veloso e o Superbacana

Caetano Veloso está preocupado com a destruição da Amazônia. Ele gravou alguns vídeos apelando para que todos os brasileiros comprem a causa. Sou capaz de apostar que ele está tão interessado na preservação das árvores da Amazônia quanto em desarvorar Temer da condição de Presidente, mas, não vem ao caso! Também não tenho apreço pelo peemedebista... Já pelo cantor e poeta, sempre nutri alguma simpatia. Fico feliz que ele esteja fazendo apologia a “não destruição”.
Talvez Caetano possa rever o apoio que tem dado a Lula. Afinal, o governo do petista ajudou com dinheiro público a destruir 916. 445 km², que corresponde à área da Venezuela. Sem contar os desplantes no Brasil. Tomara que ele esteja fazendo as conexões, do contrário, poderia parecer que os nossos índios merecem mais respeito que os cidadãos venezuelanos. Não creio que seja a opinião dele...  
    Devemos preservar a Amazônia não porque seja nossa, mas, exatamente porque não é. Ela pertence ao planeta; a todas as espécies; as gerações presentes e futuras. E acima de tudo, pertence a si mesma. Usar o slogan “A Amazônia é nossa” para defendê-la de maus exploradores não é uma boa, pois a posse comumente gera amplos direitos sobre a coisa possuída. E depois, foi o que Lula, o superbacana, disse sobre a Petrobrás. Deu no que deu!

terça-feira, 29 de agosto de 2017

Sobre a Futilidade...


“Vão-se os anéis e não fica nada.”

Quando “aparecer” torna-se sinônimo de “existir” significa que adoecemos de vaidade. Os jovens, em especial, têm cometido vários crimes para aparecer nos jornais, na TV, nas redes sociais. A vaidade desmedida rouba-lhes a existência.      

        Há um acentuado desencontro entre o que desejamos, seja por estímulo ou tendência, e as nossas reais potencialidades. Querer não é necessariamente poder, mas todos os meios de comunicação nos dizem o contrário. Aquele que não busca a todo custo alcançar as estrelas soa como um fracassado, ainda que baste a ele admirá-las de longe. A mídia tornou fama sinônimo de sucesso; e o sucesso equivale-se a felicidade.
         O espetáculo de mau gosto e a ausência de limite generalizada são efeitos desta confusão. O sonho de brilhar pode ser motivador, mas também perigoso. Se desprezarmos o ordinário, o corriqueiro, nunca alcançaremos o extraordinário. Ao eliminarmos um, fatalmente eliminamos o outro. Seria extremamente salutar separamos notoriedade de contentamento. A real satisfação prescinde de alardes.
   Difícil tarefa, já que nem com Deus podemos contar mais; ele parece definitivamente fazer parte do show business.  A divindade deveria ser singela e não suntuosa.

Abaixo, a minha reflexão poética esculachada...

Acho-me em constante desencontro
No embate entre o sonho e a insônia;
Na inquietação e no compromisso;
No que falo e sinto; o certo, o errado...
Os dois lados das convenções humanas;
E para aliviar o drama aviaram-me
Um Deus nobre, austero e sem face;
Que se mede pela quantia no envelope.  
 -Um suntuoso esculacho!-

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Quanto Vale o Show?


         Finalmente assisti ao filme Florence Foster que no Brasil foi intitulado “Florence – Quem é esta mulher?”. Ele é baseado na biografia de Florence Foster Jenkins, papel protagonizado por ninguém menos que Meryl Streep. Florence foi uma mulher muito rica que fez doações vultosas a casas de espetáculos e teatros; ela patrocinou músicos, diretores, atores... Enfim, ajudou a movimentar a vida artística e social da Nova York dos anos 40.
            O problema é que Florence ficou obcecada com a ideia de se tornar cantora lírica, embora fosse incrivelmente desafinada. Deixando de lado a comicidade do filme (em algumas cenas tem-se a impressão de que Streep irá botar um ovo), ficou patente que o talento é algo que pode ser comprado como qualquer mercadoria. Tudo é possível quando se tem o dinheiro para pagar- inclusive amor verdadeiro, segundo Nélson Rodrigues.
Florence comprou os dois. Tanto a sua inusitada carreira quanto a dedicação de um incansável marido. O talento é algo relativo, afinal, quem o define? É a mensagem do filme. Quem diz o que é bom ou ruim em um determinado assunto está suscetível a aplicar mais brandura ou rigor de acordo com as circunstâncias e os seus próprios interesses. E nem sempre os nossos interesses são nobres ou justos. Aliás, justiça cega só se vê em estátuas.
Não creio que este fato elimine o talento genuíno, mas, entre nós impera a parcialidade.  Em alguns casos quem julga o talento sequer possui conhecimento ou sensibilidade suficientes para reconhecer uma habilidade especial. No geral, contentamo-nos com porcarias, até porque são muito mais fáceis de serem consumidas.
           É por isto que livros de autoajuda pra lá de questionáveis que prescrevem a felicidade (mas, o que é a felicidade?); a liberdade (de novo: o que é ser livre?), costumam vender mais que grandes pensadores. Estas chatices batidas à exaustão são como um prato de miojo para o paladar daqueles que desconhecem o sabor de uma boa massa caseira. 
O filme é bom, não porque traga uma mensagem nova, ou porque nos reporte às grandes reflexões, mas, principalmente, por contar com atores e atrizes talentosos, verdadeiramente talentosos. A atuação de Meryl prova que um talento pode passar-se por um inapto com facilidade, mas, que o contrário, sempre vai depender de alguma benevolência comprada ou da ignorância. As gravações de Jenkins não deixam dúvida.  

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Política, Prostituição e um Gole de Esperança

O que restará de nós?

Temer fica. A despeito de todos os indícios de que tenha cometido crimes, ele seguirá ocupando o cargo mais importante do país.  A República de banana continua a adotar pesos e medidas diferentes para casos iguais, o que nos sagra ordinários. A esquerda não estava de todo errada, mas, o golpe não foi contra eles, o golpe é contra todos os brasileiros que tentam manter a honestidade em um país cuja maioria já considera tal virtude um obstáculo.
           O que restará de cada um de nós, do cidadão que cria, sente, julga e faz as suas escolhas; material sólido, carne e ossos do ente abstrato denominado sociedade brasileira? De quem é a culpa? Minha não é... Por isto seria bem oportuno se começássemos a nomear a tal sociedade, “um a um”...
         
Quanto de mim em mim sou eu?
Quanto em tudo nada importa?
Um ir e vir de portas;
Tenho medo de fechar uma
Sem abrir outra.
(Nunca superei por completo o medo do escuro)
E quem nunca foi covarde neste mundo?
Ou em outro qualquer...
Quem sabe tudo se resume na roupa e no espelho
Em administrar o aperto da roupa
E os anos no espelho
Impondo o tempo como medida real.
Mas, ainda tem o amor...
Sim, ainda tem o amor a desafiar tudo!
O espelho o tempo e o medo do escuro;
A manter a esperança 
Entre um passo e outro
E a manter algo de nós em nós mesmos.

(P.Ubert)

terça-feira, 4 de julho de 2017

Sobre a Esperança Esdrúxula...


"Meu coração não se cansa de ter esperança de um dia ser tudo o que quer..."

O amor nos afasta da boa poesia, um amor satisfeito, ao menos um amor esperançoso...
Só o desamor é capaz de produzir bons poemas, um adubo e tanto! É por esta razão que “todas as cartas de amor são ridículas”. Afinal, viva o esdrúxulo!

Que sabe um coração esperançoso, senão buscar a esperança?
Criança perseguindo bolhas coloridas;
Lançadas ao acaso, lânguidas! Voando no seu breve infinito.
Dirão a cada esfera perdida: ridículo coração!
Mas ele continuará pulsando, já que este é o seu ofício...

(P. Ubert)

domingo, 25 de junho de 2017

Vegas, Estrelas e Escracho

Juro que a ideia inicial era escrachar o Temer, talvez, o Marechal Deodoro da Fonseca, o Lula, sei lá! Dom Pedro I... Alguém tem que ser escrachado! Alguém tem que ser o culpado de nada funcionar por aqui... Las Vegas, um parque de diversões no meio do deserto, é um escracho! Um monumento a luxuria, a gula e a soberba: lindo, luxuoso, limpo e organizado. Tapa na cara de quem vive em um grande bordel sujo, muito sujo! Abandonei a ideia inicial... Não vale a pena escrever sobre nós! Melhor procurar estrelas...

“TE DOU UM CÉU CHEIO DE ESTRELAS
FEITAS COM CANETA BIC
NUM PAPEL DE PÃO”.
(Zeca Baleiro)

“Estrelas altas! Que se importam elas?
Tão longe estão... Tão longe deste mundo...
Trêmulo bando de distantes velas
Ancoradas no azul do céu profundo”
(As Estrelas- Mário Quintana)

“E eu vos direi: Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas”
(Ouvir Estrelas- Olavo Bilac)

No céu de Las Vegas não há estrelas, bom, devem estar lá, mas não as vemos. Há tantas luzes por toda parte que só mesmo um poeta poderia notá-las.

segunda-feira, 5 de junho de 2017

Pleno e Poesia

Sobre o Pleno...

O nome vem do latim. Tem origem na palavra plenus, que por sua vez quer dizer, LITERALMENTE, pleno, completo...  

        Hoje, sem Temer, terrorismo e trapaças. Troquei tudo por um punhado de poesia. Permiti-me chamar o que escrevi de poesia. Quem lê o que escrevo sabe que é uma exceção, tanto por senso quanto por respeito aos poetas. Mas, às vezes é preciso um nome que expresse o que sentimos. E como bem se depreende de Pessoa, o que é a poesia senão a tradução do sentimento do poeta? Que quanto mais finge e mente mais se descreve e denuncia. 


Sou pleno,
No meu avesso espelho.
Eu mesmo!
Como falar sobre algo tão complexo,
Sendo tudo isto e muito além do verso?
Como explicar o encontro das paralelas,
Os mistérios da natureza?
Sou a simbiose das formas que se contrastam;
Sou as sombras que disputam a mesma vaga.
Sou o que me resta; sou o que se gesta.
E a espera do parto rompem-se máscaras;
Estreitam-se espaços, alargam-se medos!
E sou eu, eu mesmo.

(P. Ubert)

quinta-feira, 18 de maio de 2017

Temer, Temer...Tudo o que eu Temia...

Fato: Não há possibilidade jurídica de eleições diretas nessa altura do campeonato;

Opções:

Renúncia-É considerada no meio politico um ato de covardia, jamais de bom senso;
TSE- Tirar Temer do banho Maria e jogar ele na chapa quente, PT/PMDB- Me parece o mais   plausível;
Impeachment- Mesmo para o Brasil dois processos de impeachment em menos de 01 ano seria muito.  
Abrir os cargos da Presidência da República, Deputado Federal e Senador da República para políticos estrangeiros- Se elegêssemos holandeses, suíços ou ingleses teríamos boas chances de melhorar...
Fica a dica...

quarta-feira, 26 de abril de 2017

Deus é brasileiro. Ôba, ôba, ôba...

Cresci ouvindo que Deus é brasileiro. Esta máxima nunca fez tanto sentido quanto agora. Vai ver é mesmo...  Estava tentando assistir ao filme “Cidade de Deus” pela quinta vez, mas nunca chego nem na metade. Meu gosto para filmes é duvidoso. Embora os diálogos não exijam muito do telespectador, basicamente, “caralho”, “porra” e “filho da puta”, admito que tenho dificuldade com a mensagem. Resisto em associar bandidagem com revolução social.
Talvez isto aconteça porque não seja de esquerda, explico: a nossa esquerda romantizou o crime, especialmente o crime organizado. Para eles o crime é uma resposta louvável, a única possível, para quem não é branco e rico. Não é à toa que idolatram caras como Che Guevara.  O hino dos supostos “Robin Hood” dos morros, cantado por Jorge Ben Jor, traduz bem o fenômeno. Jorge Amado também transformou malfeitores em heróis de um modo poético, sobretudo, em Capitães de Areia. As personagens são tão envolventes que dá vontade de sair por aí com uma arma mostrando que essa porra de lei é para otário cumprir!
Não sou contra retratarmos as nossas mazelas, desde que sejam apresentadas como tal e não com adornos e brocados. O Brasil pós-ditadura toma com muita facilidade seus bandidos por heróis. Se um sujeito mata outro por um celular, não é sensato dizer que  a culpa é de quem morreu. Deveria ser óbvio, mas graças a inversão dos papéis de vitima e agressor, em muito disseminada por esta geração patética de comunistas Disney, ficamos sempre com a sensação de que o fato justifica-se na desigualdade social. Se o morto for branco e o matador negro, fica mais compreensível ainda. Isto faz do criminoso um justiceiro e do crime o justo.
Um crime não é um feito louvável, ao menos não em uma sociedade civilizada.  Mas, façamos uma reflexão sincera: o Brasil ainda está longe de ser uma sociedade civilizada. Não por outra razão bandidos podem ser facilmente eleitos e reeleitos a despeito de seus crimes.
          Nós temos essa tendência de nutrir admiração por malandros e malfeitores que se intitulam protetores e representantes dos fracos e  oprimidos, estejam eles atuando nos altos escalões dos morros, avenidas, instituições... Se os nossos anjos são reconhecidos pelo calibre de suas armas, não me parece estranho que Deus seja brasileiro... Além, é claro, dos otários cumpridores de ordens e leis que também nasceram aqui. 

quarta-feira, 19 de abril de 2017

Lava Jato, Tiradentes e Baleia Azul


O Brasil está cada vez mais ordinário. Vemos dia após dia, delação após delação, na rotina dos telejornais, que patinamos na lama. Sem muita vontade de poetizar, em um ato de desespero, tentei distrair minha mente da interminável novela Lava Jato.
Para contrapor peguei pesado! Ofuscar tamanha vagabundice exigiria algo igualmente reles. O fim da picada... Primeiro, ocorreu-me jogar tarô online. Descobri que cada carta tem um significado. Você sorteia uma e ela diz tudo sobre sua missão de vida.
 Sem muita fé escolhi, saiu o enforcado. O enforcado, no tarô, refere-se ao apostolado patriótico com ideias voltadas para o futuro, redundando no auto sacrifício por algo valioso. Muito sintomático, considerando que no próximo dia 21 de abril homenageamos Tiradentes. Ele, que morreu para nos salvar de um povo corrupto e opressor, exploradores que nos roubavam e enviavam tudo para fora do país. Após uma breve reflexão, concluí que a carta mais adequada para mim e Tiradentes seria o trouxa, mas parece que não existe no Tarô,o que me fez desistir da incursão esotérica.
 Persistente, decidi continuar tentando. E eis que em meio ao mar de lama das delações feitas por ex-dirigentes da Odebrecht me surgiu à imagem da misteriosa baleia azul... Comecei imediatamente a pesquisar. Descobri que o jogo consiste em uma série de desafios que incluem sacrifícios, que vão desde jejum prolongado a autoflagelação, podendo, inclusive, culminar com a morte do jogador.
 Para minha decepção percebi que não tinha nada de novo, a mesma rotina... Basta recordar a proposta católica da Idade Média: sofrimento, incluindo autoflagelação, promessas e jejuns. Regras inventadas para nos manter sob total controle. Que falta de criatividade! Embora tenha muita simpatia por baleias, não deu para aderir a algo tão antiquado.
 Sem opção, como último recurso, decidi dar uma espiada na previsão do dia para os sagitarianos. Segundo li, estou entrando em um período de rotina intensa. Tudo segue sem a menor novidade...   Patinando, me dirigi até a sala de TV para assistir a reprise das delações premiadas, a única coisa real, darwiniana, em meio a tantos sacrifícios e ideais vãos. “Tiradentes patriota que morreu pelo Brasil, com  a gratidão saudamos este vulto varonil”. E salve as baleias!

sábado, 1 de abril de 2017

Sobre a Questão do Ser...


Hoje, dia 1° de Abril...Como lhe dar com o "dia da mentira" quando mentir é a regra?Não fosse o meu mau humor postaria algo engraçado. Hoje, dia 1° de Abril, posto o mais sincero dos dilemas:

"Ser ou não ser, eis a questão: ...
Dormir..."

(William Shakespeare)

Abaixo, bem abaixo, infinitamente abaixo, a minha própria reflexão:

Há dias mansos refletidos no lusco-fusco da tarde contemplada
Que nos dá uma ânsia danada de rever fotos descoradas;
De jogar conversa fora com um amigo que há muito não se vê;
De sentar na varanda em uma cadeira entortada pelo tempo;
De fluir com o vento frio que anuncia o anoitecer;
Há também os dias agitados;
Os dias das esperanças renovadas;
Os dias de raiva e paixão;
Os dias felizes de Natal;
Os dias de mágoa e também os de perdão;   
Mas, há dias em que prevalece o nada;
Em que a indiferença reina no deserto;
E nessa ausência prosperada
Surge o inesperado descoberto:
Uma sincera vontade de não ser...
(P. Ubert)

quarta-feira, 22 de março de 2017

Sobre o Insulto...

Schopenhauer é o meu filósofo favorito. Dizem que era machista porque “tascou” certa feita: "mulheres são seres de cabelos longos e ideias curtas". Não podemos desconsiderar todo o seu raciocino impecável sobre as questões do ser em razão deste em particular... Não costuma ser prudente tomar a parte pelo todo. E, além, é notório que a maioria da humanidade, em todas as épocas, sempre teve ideias curtas. Sendo que os homens ainda podem ter a desvantagem da calvície. Detalhe, a maioria também é bem machista, homens e mulheres. 

Astrologia...

“Uma prova grandiosa da subjetividade deplorável dos homens, em decorrência da qual eles referem tudo a si mesmos e de que todo pensamento retrocede imediata e diretamente a si, nos é fornecida pela astrologia, que relaciona o curso dos grandes corpos celestes ao individuo mesquinho, bem como os cometas no céu às querelas e trapaças terrenas”.

As Razões da Maioria...

“O intelecto não é uma grandeza extensiva, mas intensiva: sendo assim, um único individuo pode tranquilamente opor-se a dez mil, e uma assembléia de mil imbecis não faz um único homem inteligente”


 Quando a verdade parece cruel...

"É penoso ouvir roucos cantarem e ver mancos dançarem; mas saber de mentes limitadas que filosofam é insuportável. "

(Schopenhauer “A Arte de Insultar”)

Sobre Todas as Coisas...Sobre voos...

“Gosto de um modo carinhoso do inacabado, do malfeito, daquilo que desajeitadamente tenta um pequeno voo e cai sem graça no chão...”.

(Clarice Lispector)

Há uma chatice na paixão que só os apaixonados relevam.  Mil desculpas pela insistência na reflexão  de Clarice. É que a minha paixão me leva a repeti-la...Sinceramente, não consigo encontrar nada que me encante mais, ou que considere mais poético.  Nesta linha, faço a minha própria reflexão sobre o voo tentado; a esperança renitente; o “levantar-se” impelido pelo inexorável desejo de alcançar...

Era para ter sido apenas mais uma noite, talvez, mais desagradável que a maioria das noites, mas, inesperadamente, a noite fez-se sonho real. Mágica de carne e osso, inexplicável... Tal qual o encanto das noites de natal para as crianças. Desembrulhei o presente, no entanto, apesar do sonho intacto, pela manhã, a caixa estava vazia.  

(P. Ubert)

terça-feira, 7 de março de 2017

Sobre Chuva e Tristeza

Muitas pessoas associam chuva com tristeza e sol com alegria. Sim, há alguma tristeza na chuva, mas, muito mais de poesia.  

Chove. Chovo eu, tudo escorre. Todas as coisas em todos os lugares se metamorfoseando em água e indo embora; fluindo para um misterioso mar que conhece a verdade das pedras e homens. Não há nada que possa traduzir melhor a tristeza sublimada que uma chuva mansa.

P. Ubert (metamorfoseando). 

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Sobre Sonhos e Genes...


“O homem é do tamanho do seu sonho” ou dos seus genes?

Fernando Pessoa, desassossego em pessoa, escreveu no Livro do Desassossego: “Haja ou não deuses, deles somos servos”. Acho muito interessante porque o tão decantado livre arbítrio, “querer é poder”, sempre me causou certa desconfiança.
É um argumento muito usado pelas religiões para deixar claro que você só não é o que esperam que seja porque é um calhorda fraco. Em todo o caso, cada um deve ter gravado em seus genes as “calhordices” que merece.
Fernando estava certo: somos escravos, de um jeito ou de outro. Menos mal! Quantos de nós não estaríamos piores se pudéssemos decidir inexoravelmente os nossos destinos? Mas, e os sonhos? Os sonhos repousam à sombra da nossa realidade, esperando o beijo apaixonado do tempo, que, para nosso azar ou sorte, pode ser eterno.   
      Fiz uma reflexão poética sobre o tema. De mim para Fernando; de um desassossegado para outro:

Sou escravo como foram meus ancestrais;
Um corpo atado ao tronco, sob a chibata dos heróis e das quimeras;
Arrastando minhas correntes desde que lançado aos espaços siderais,
Vou sendo parido e decomposto para muito além das eras.

(Querem saber? O homem é do tamanho da sua alma)  

(P. Ubert)