terça-feira, 29 de agosto de 2017

Sobre a Futilidade...


“Vão-se os anéis e não fica nada.”

Quando “aparecer” torna-se sinônimo de “existir” significa que adoecemos de vaidade. Os jovens, em especial, têm cometido vários crimes para aparecer nos jornais, na TV, nas redes sociais. A vaidade desmedida rouba-lhes a existência.      

        Há um acentuado desencontro entre o que desejamos, seja por estímulo ou tendência, e as nossas reais potencialidades. Querer não é necessariamente poder, mas todos os meios de comunicação nos dizem o contrário. Aquele que não busca a todo custo alcançar as estrelas soa como um fracassado, ainda que baste a ele admirá-las de longe. A mídia tornou fama sinônimo de sucesso; e o sucesso equivale-se a felicidade.
         O espetáculo de mau gosto e a ausência de limite generalizada são efeitos desta confusão. O sonho de brilhar pode ser motivador, mas também perigoso. Se desprezarmos o ordinário, o corriqueiro, nunca alcançaremos o extraordinário. Ao eliminarmos um, fatalmente eliminamos o outro. Seria extremamente salutar separamos notoriedade de contentamento. A real satisfação prescinde de alardes.
   Difícil tarefa, já que nem com Deus podemos contar mais; ele parece definitivamente fazer parte do show business.  A divindade deveria ser singela e não suntuosa.

Abaixo, a minha reflexão poética esculachada...

Acho-me em constante desencontro
No embate entre o sonho e a insônia;
Na inquietação e no compromisso;
No que falo e sinto; o certo, o errado...
Os dois lados das convenções humanas;
E para aliviar o drama aviaram-me
Um Deus nobre, austero e sem face;
Que se mede pela quantia no envelope.  
 -Um suntuoso esculacho!-

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Quanto Vale o Show?


         Finalmente assisti ao filme Florence Foster que no Brasil foi intitulado “Florence – Quem é esta mulher?”. Ele é baseado na biografia de Florence Foster Jenkins, papel protagonizado por ninguém menos que Meryl Streep. Florence foi uma mulher muito rica que fez doações vultosas a casas de espetáculos e teatros; ela patrocinou músicos, diretores, atores... Enfim, ajudou a movimentar a vida artística e social da Nova York dos anos 40.
            O problema é que Florence ficou obcecada com a ideia de se tornar cantora lírica, embora fosse incrivelmente desafinada. Deixando de lado a comicidade do filme (em algumas cenas tem-se a impressão de que Streep irá botar um ovo), ficou patente que o talento é algo que pode ser comprado como qualquer mercadoria. Tudo é possível quando se tem o dinheiro para pagar- inclusive amor verdadeiro, segundo Nélson Rodrigues.
Florence comprou os dois. Tanto a sua inusitada carreira quanto a dedicação de um incansável marido. O talento é algo relativo, afinal, quem o define? É a mensagem do filme. Quem diz o que é bom ou ruim em um determinado assunto está suscetível a aplicar mais brandura ou rigor de acordo com as circunstâncias e os seus próprios interesses. E nem sempre os nossos interesses são nobres ou justos. Aliás, justiça cega só se vê em estátuas.
Não creio que este fato elimine o talento genuíno, mas, entre nós impera a parcialidade.  Em alguns casos quem julga o talento sequer possui conhecimento ou sensibilidade suficientes para reconhecer uma habilidade especial. No geral, contentamo-nos com porcarias, até porque são muito mais fáceis de serem consumidas.
           É por isto que livros de autoajuda pra lá de questionáveis que prescrevem a felicidade (mas, o que é a felicidade?); a liberdade (de novo: o que é ser livre?), costumam vender mais que grandes pensadores. Estas chatices batidas à exaustão são como um prato de miojo para o paladar daqueles que desconhecem o sabor de uma boa massa caseira. 
O filme é bom, não porque traga uma mensagem nova, ou porque nos reporte às grandes reflexões, mas, principalmente, por contar com atores e atrizes talentosos, verdadeiramente talentosos. A atuação de Meryl prova que um talento pode passar-se por um inapto com facilidade, mas, que o contrário, sempre vai depender de alguma benevolência comprada ou da ignorância. As gravações de Jenkins não deixam dúvida.  

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Política, Prostituição e um Gole de Esperança

O que restará de nós?

Temer fica. A despeito de todos os indícios de que tenha cometido crimes, ele seguirá ocupando o cargo mais importante do país.  A República de banana continua a adotar pesos e medidas diferentes para casos iguais, o que nos sagra ordinários. A esquerda não estava de todo errada, mas, o golpe não foi contra eles, o golpe é contra todos os brasileiros que tentam manter a honestidade em um país cuja maioria já considera tal virtude um obstáculo.
           O que restará de cada um de nós, do cidadão que cria, sente, julga e faz as suas escolhas; material sólido, carne e ossos do ente abstrato denominado sociedade brasileira? De quem é a culpa? Minha não é... Por isto seria bem oportuno se começássemos a nomear a tal sociedade, “um a um”...
         
Quanto de mim em mim sou eu?
Quanto em tudo nada importa?
Um ir e vir de portas;
Tenho medo de fechar uma
Sem abrir outra.
(Nunca superei por completo o medo do escuro)
E quem nunca foi covarde neste mundo?
Ou em outro qualquer...
Quem sabe tudo se resume na roupa e no espelho
Em administrar o aperto da roupa
E os anos no espelho
Impondo o tempo como medida real.
Mas, ainda tem o amor...
Sim, ainda tem o amor a desafiar tudo!
O espelho o tempo e o medo do escuro;
A manter a esperança 
Entre um passo e outro
E a manter algo de nós em nós mesmos.

(P.Ubert)