Muitas pessoas falam mal do mês de agosto: "mês do cachorro doido";
"dá azar"; "mês feio"... Sempre defendi agosto, até hoje.
Agora tenho uma razão para cismar: Fernanda Young morreu em agosto.
Dizem que liberdade é a coerência entre o sentimento e a ação; não sei se ela
era livre, mas certamente era original, criativa, cáustica, e, acima de tudo,
divertida No entanto, combinava todas estas qualidades "subversivas"
com a maternidade, um casamento estável e muita lucidez.
Confundia
as feministas; confundia as submissas; confundia todo mundo! Doce e amarga;
maternal e provocativa; lânguida e ácida. Algumas pessoas são mais do que
outras, Fernanda Young, era!
Sua
morte insana, sem sentido, inesperada e ridícula me faz odiar agosto; me faz
odiar deuses; me faz pensar que viver é mesmo um acidente de percurso do
universo; o nada deve ser a regra; a ausência deve ser a regra; o não ser deve
ser a regra. A vida é apenas um lapso, um espasmo que agosto engoliu.
E
para me vingar de agosto, do azar e dos cachorros doidos, continuo vivendo;
continuo refletindo; continuo poetizando...
É arrogância imaginar que
podemos ver mais do que a aparência nos dá;
Verdades absolutas; tramas
reveladas; enigmas desvendados...
Tudo é um infinito “supor”.
O Universo descrito pelos
limitados olhos humanos
É uma síntese pobre das
nossas farsas e enganos.
Como saber sobre tudo, ou
qualquer coisa que seja,
Se até sobre nós há coisas
das quais sequer suspeitamos
E há quem queira padronizar
todas as formas de olhar;
E há quem queira olhar nos
olhos de Deus.
P.Ubert