sábado, 31 de agosto de 2019

ACRÓSTICO E FERNANDA YOUNG


Sete dias sem Fernanda. Em breve serão sete meses; em breve serão sete anos; em breve se perde as contas...


Faz sentido a vida tanto quanto faz a morte;
Eu que nada sei, espero no azar de uma a sorte;
Raiva, paz, ardor e tédio...
Nasço e morro em tudo igualmente;
Abraçado a ambas no mesmo sonho;
Na dor para a qual uma da outra é o remédio.
Deixemos sem medo que elas nos carreguem;
A vida e a morte, esse breve eternamente.

 Patrícia Ubert

domingo, 25 de agosto de 2019

FOREVER FERNANDA YOUNG



    Muitas pessoas falam mal do mês de agosto: "mês do cachorro doido"; "dá azar"; "mês feio"... Sempre defendi agosto, até hoje. Agora tenho uma razão para cismar: Fernanda Young morreu em agosto.

  Dizem que liberdade é a coerência entre o sentimento e a ação; não sei se ela era livre, mas certamente era original, criativa, cáustica, e, acima de tudo, divertida No entanto, combinava todas estas qualidades "subversivas" com a maternidade, um casamento estável e muita lucidez.
 Confundia as feministas; confundia as submissas; confundia todo mundo! Doce e amarga; maternal e provocativa; lânguida e ácida. Algumas pessoas são mais do que outras, Fernanda Young, era!
 Sua morte insana, sem sentido, inesperada e ridícula me faz odiar agosto; me faz odiar deuses; me faz pensar que viver é mesmo um acidente de percurso do universo; o nada deve ser a regra; a ausência deve ser a regra; o não ser deve ser a regra. A vida é apenas um lapso, um espasmo que agosto engoliu.

E para me vingar de agosto, do azar e dos cachorros doidos, continuo vivendo; continuo refletindo; continuo poetizando...
 
É arrogância imaginar que podemos  ver  mais do que a aparência nos dá;
Verdades absolutas; tramas reveladas; enigmas desvendados...
Tudo é um infinito “supor”.
O Universo descrito pelos limitados olhos humanos
É uma síntese pobre das nossas farsas e enganos.
Como saber sobre tudo, ou qualquer coisa que seja, 
Se até sobre nós há coisas das quais sequer suspeitamos
E há quem queira padronizar todas as formas de olhar;
E há quem queira olhar nos olhos de Deus.

P.Ubert

terça-feira, 20 de agosto de 2019

Desassossego





O poema Tabacaria de Álvaro de Campos, de longe o meu  heterônimo favorito de Fernando Pessoa, é um dos que mais aprecio. Intimista; de uma inquietação ímpar, um desassossego! Gosto da ideia da farsa, do dominó desajustado com o qual nos vestimos para as convenções. 
Abaixo a minha reflexão quase poética, quase...   

Arrancado do sossego do nada, lançado neste planeta desassossego;
entregue ao instinto da vida vou seguindo; fechando portas invisíveis,
nadando em risos reprimidos, sempre eu, sempre esse espectro mascarado; sempre eu, sempre esse desassossegado.
Fer-nan-do... Que verdade escreveu e  rasgou; que mentira contada te revelou mais do que o verso rejeitado?  Medo, vergonha ou tédio? Diga-me! Revele-me na sua complexidade! Sou o seu leitor, igual, sem remédio, despido no oculto enredo; vestido com aquele mesmo dominó ras-ga-do. O carro segue, o mundo continua girando...E como passa rápido do lado de fora; e como por dentro é uma eternidade...

P. Ubert

domingo, 11 de agosto de 2019

Sobre Quedas

Cair é um verbo irregular; verbos irregulares são os que sofrem alterações, afastando-se do modelo a que pertencem. O ato de cair, a queda, pode ser algo profundamente subjetivo; manter-se lúcido durante ela aumenta as chances de se machucar menos, mesmo quando ocorre de modo concreto.  

procidens*

Caem almas
Caem águas
Caem homens
Caem anjos
Caem planos
Caem tramas
Caem panos
Caem mágoas
Caem sonhos
Caem folhas
Caem prantos
Caem certezas
Caem enganos
Mas,
In pace procedamus

* caiamos 
* Em paz prossigamos