terça-feira, 20 de agosto de 2019

Desassossego





O poema Tabacaria de Álvaro de Campos, de longe o meu  heterônimo favorito de Fernando Pessoa, é um dos que mais aprecio. Intimista; de uma inquietação ímpar, um desassossego! Gosto da ideia da farsa, do dominó desajustado com o qual nos vestimos para as convenções. 
Abaixo a minha reflexão quase poética, quase...   

Arrancado do sossego do nada, lançado neste planeta desassossego;
entregue ao instinto da vida vou seguindo; fechando portas invisíveis,
nadando em risos reprimidos, sempre eu, sempre esse espectro mascarado; sempre eu, sempre esse desassossegado.
Fer-nan-do... Que verdade escreveu e  rasgou; que mentira contada te revelou mais do que o verso rejeitado?  Medo, vergonha ou tédio? Diga-me! Revele-me na sua complexidade! Sou o seu leitor, igual, sem remédio, despido no oculto enredo; vestido com aquele mesmo dominó ras-ga-do. O carro segue, o mundo continua girando...E como passa rápido do lado de fora; e como por dentro é uma eternidade...

P. Ubert

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