Enquanto Bozo resolve sobre o perdão de dívidas que matará alguns frequentadores deste blog, eu poetizo. Encontrei o Blog da Roseana- Roseana Murray- que postou sobre gatos e cães. Já fui bi-animal; atualmente me tornei cisgata, tenho três bichanos. Como não poderia deixar de ser fiz uma reflexão poética sobre o assunto...
A mulher abraça o gato;
Ele se esquiva como pode.
A mulher precisa de afeto;
O gato se contorce!
Ela quer o aconchego que oferta;
Ele quer fugir para algum teto;
Ela o beija;
Ele a arranha...
Na contramão da natureza,
O caçador se torna a presa.
(Patrícia Ubert)
CACHORROS E GATOS- BLOG DA ROSEANA
Ler um gato é muito diferente do que ler um
cachorro. O gato é um texto que se esquiva, se esconde entre duas auroras, na
fronteira entre o mágico e o irreal. O gato é sinuoso, seu texto é macio, é
poesia, nunca se deixa apreender por inteiro. O gato é escorregadio, vive nas
entrelinhas.
Para ler um cachorro não se precisa de óculos especiais. Seu texto é escrito em maiúscula, diz claro e em bom tom o que pensa e a que veio. O cachorro é prosa, o gato é música, é poesia.
A UN GATO
No son más silenciosos los espejos
Ni más furtiva el alba aventurera:
Eres, bajo la luna, esa pantera
Que nos es dado divisar de lejos.
Por obra indescifrable de un decreto
Divino, te buscamos vanamente:
Más remoto que el Ganges y el poniente,
Tuya es la soledad, tuyo el secreto,
Tu lomo condesciende a la morosa
Carícia de mi mano. Has admitido,
Desde esa eternidad que ya es olvido,
El amor de la mano recelosa.
En otro tiempo estás. Eres el dueño
De un ámbito cerrado como un sueño.
Jorge Luis Borges, Obra
Poética, Emecé Editores
Por fim, Baudelaire, um dos meus poetas favoritos...
Viens, mon beau chat, sur mon coeur amoureux;
Retiens les griffes de ta patte,
Et laisse-moi plonger dans tes beaux yeux,
Mêlés de métal et d' agate.
Lorsque mes doigts caressent à loisir
Ta tête et ton dos élastique,
Et que ma main s' enivre du plaisir
De palper ton corps électrique,
Je vois ma femme en esprit. Son regard,
Comme le tien, aimable bête
Profond et froid, coupe et fend comme un dard,
Et, des pieds jusques à la tête,
Un air subtil, un dangereux parfum
Nagent autour de son corps brun.
O Gato (Tradução de Jamil Almansur Haddad)
Meu gato, vem, ao meu peito amoroso;
Contém as garras afinal,
E que eu mergulhe em teu olhar, formoso,
Que é feito de ágata e metal.
Se os meus dedos afagam no lazer
Tua testa e teu dorso elástico,
Se a minha mão se embriaga de prazer
De palpar o teu corpo elétrico,
Em espírito a vejo. Seu olhar
Tão amável como tu és
É como frios dardos a cortar.
E da cabeça até os pés
Um ar sutil, um perfume traiçoeiro
Nadando-lhe
em torno do corpo trigueiro.