quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

Sobre O Essencial...FELIZ 2020!

Talvez a liberdade seja a nossa maior utopia, mas ela é  uma das poucas coisas pela qual se vale a pena  lutar; no mais é o tempo nos dando e tirando as coisas... 

Desejo a todos um FELIZ 2020! Com o máximo de liberdade possível...
Liberdade de Ser;
Liberdade de Não Ser;
Liberdade de Buscar;
Liberdade de Parar;
Liberdade de Falar;
Liberdade do Silêncio;
Liberdade de Crer;
Liberdade de Não Crer;
Liberdade de Expressão!
Liberdade, para que sejamos menos estranhos uns aos outros.

 
"Nada sabemos da alma
Senão da nossa;
As dos outros são olhares,
São gestos, são palavras,
Com a suposição
De qualquer semelhança no fundo."

(Fernando Pessoa, ele, sempre ele.)

sábado, 30 de novembro de 2019

Sobre o Empuxo e o Repuxo...

As pessoas estão sofrendo com a morte do apresentador Augusto Liberato. Uma fatalidade... Eu ainda sofro por Fernanda Young...A fatalidade da gente é sempre mais fatal que a dos outros.


Há um certo cansaço na vida que só os vivos conhecem; a reticência da morte aos mortos pertence. Os deuses nada sabem sobre cansaço, tampouco sobre o mistério da reticência, porque  são eles mesmos o cansativo mistério. Tudo, a exceção do tempo, é um sonho.  E há sempre um deus indiferente assistindo-nos correr e dormir; e há sempre flores  colorindo indiferentes a vida e a morte.    


Patrícia, des idées fatales

quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Sobre Velhice e Hipocrisia



A velhice tem um lado "B" que a maioria prefere ignorar.  Ontem, dia 1° de outubro, comemoramos o dia do idoso. A palavra é um eufemismo para o "palavrão" velho. Existe uma tendência visceral na romantização da velhice, perdendo apenas para o aumento dos procedimentos cirúrgicos que tentam esticar, literalmente, a juventude.  
           Posto o meu conto sobre uma velha. Idosa é a vovozinha...

                                                           VÓ LURDINHA

               Vó Lurdinha mexia a dentadura para lá e para cá; no mesmo ritmo esfregava as mãos, tentando falar através delas. A sobrinha -Vó Lurdinha nunca se casou ou teve filhos- contou que alguém contou que ela era esquisita desde menina, sim, Vó Lurdinha já havia sido menina.       
       Muito antes das mãos enrugadas e inquietas teve dentes de leite que foram substituídos por de coelhos. Ela os perdeu com o tempo.Também perdeu os cabelos, a fome e os seios. O juízo perdeu muito antes de perder a casa, os cachorros e as plantas. Desde muito tomava remédios para os nervos, eram fracos...            
            No abrigo ficava sempre em um canto; resmungava coisas entre uma sambada e outra dos dentes. Não dançava; não cantava; não ria. E nunca recebeu visita. Os sobrinhos se desfizeram dela e dos seus cachorros, mas dividiram o dinheiro da casa e algumas de suas plantas. Planta dá muito menos trabalho que cachorro; que por sua vez da muito menos trabalho que gente. Ainda mais gente velha... 
         Vó Lurdinha tinha um mundo próprio, insondável. Talvez cheio de belas recordações, talvez de mágoas... Vai saber se foi beijada; se apanhou; se teve vestidinho rosa de voal; se existia sonho para além dos olhos embaçados.
            Um dia Vó Lurdinha não acordou para o remédio dos nervos, que vinha sempre depois do da pressão alta, seguido pelo da diabetes. A enfermeira não ouviu os resmungos nem viu o esfregar de mãos. Vó Lurdinha estava morta. O corpo em cima da cama; a Bíblia em cima do criadinho e o copo da dentadura em cima da Bíblia. Era tudo. A síntese de quase noventa anos.
           Ninguém chorou. Ninguém deu falta dela. Desfizeram-se do copo e da dentadura. A Bíblia mudou-se para outro quarto. Só algum tempo depois, Dona Edite, nova moradora do abrigo, herdeira da Bíblia de Vó Lurdinha, encontrou uma foto antiga entre as páginas. Era uma menina sorrindo, dentes de coelho, com um cachorrinho nos braços.

terça-feira, 10 de setembro de 2019

Sobre a Perda...


Toda vez que um poeta morre, morre um pouco da poesia.


Depois que você partiu todo dia é final de domingo;
Comércio fechado; dia de acender velas no cemitério;
Todo dia venta e o céu se veste de cinza nublado;
Depois que você partiu a comédia virou tédio; o sorvete virou água;
As janelas se fecharam; as luzes se apagaram; setembro não veio, não veio maio;
Depois que você partiu o samba ficou triste; Schopenhauer me consola;
Não há cheiro de flores; não há cheiro de algodão doce; 
Não há Rock ou Beethoven ; não há crentes ou ateus;
Meus opostos se fundiram, mas não formaram algo novo;  
Depois que você partiu desejosa deste orbe doente ,
O suburbano nunca foi tão rei;  o chique nunca foi tão povo;
Os cachorros ficaram mais doidos; agosto nunca foi tão agosto;
Tatuagens ,  poemas,  risos e dilemas me dizem:
Que deuses apressam os poetas e poupam os dementes. 

P. Ubert, sem poesia; sem comédia...

sábado, 31 de agosto de 2019

ACRÓSTICO E FERNANDA YOUNG


Sete dias sem Fernanda. Em breve serão sete meses; em breve serão sete anos; em breve se perde as contas...


Faz sentido a vida tanto quanto faz a morte;
Eu que nada sei, espero no azar de uma a sorte;
Raiva, paz, ardor e tédio...
Nasço e morro em tudo igualmente;
Abraçado a ambas no mesmo sonho;
Na dor para a qual uma da outra é o remédio.
Deixemos sem medo que elas nos carreguem;
A vida e a morte, esse breve eternamente.

 Patrícia Ubert

domingo, 25 de agosto de 2019

FOREVER FERNANDA YOUNG



    Muitas pessoas falam mal do mês de agosto: "mês do cachorro doido"; "dá azar"; "mês feio"... Sempre defendi agosto, até hoje. Agora tenho uma razão para cismar: Fernanda Young morreu em agosto.

  Dizem que liberdade é a coerência entre o sentimento e a ação; não sei se ela era livre, mas certamente era original, criativa, cáustica, e, acima de tudo, divertida No entanto, combinava todas estas qualidades "subversivas" com a maternidade, um casamento estável e muita lucidez.
 Confundia as feministas; confundia as submissas; confundia todo mundo! Doce e amarga; maternal e provocativa; lânguida e ácida. Algumas pessoas são mais do que outras, Fernanda Young, era!
 Sua morte insana, sem sentido, inesperada e ridícula me faz odiar agosto; me faz odiar deuses; me faz pensar que viver é mesmo um acidente de percurso do universo; o nada deve ser a regra; a ausência deve ser a regra; o não ser deve ser a regra. A vida é apenas um lapso, um espasmo que agosto engoliu.

E para me vingar de agosto, do azar e dos cachorros doidos, continuo vivendo; continuo refletindo; continuo poetizando...
 
É arrogância imaginar que podemos  ver  mais do que a aparência nos dá;
Verdades absolutas; tramas reveladas; enigmas desvendados...
Tudo é um infinito “supor”.
O Universo descrito pelos limitados olhos humanos
É uma síntese pobre das nossas farsas e enganos.
Como saber sobre tudo, ou qualquer coisa que seja, 
Se até sobre nós há coisas das quais sequer suspeitamos
E há quem queira padronizar todas as formas de olhar;
E há quem queira olhar nos olhos de Deus.

P.Ubert