O
humor é algo imprescindível a nossa
saúde mental. A pessoa que não consegue achar graça, especialmente de si mesma, não terá longevidade. No entanto, burrice não é humor; burrice é burrice!
Muitas pessoas, inclusive os próprios
humoristas, chamam de humor as “piadinhas” surradas que reforçam preconceitos. As que falam dos negros talvez sejam o exemplo mais gritante. Normalmente estas “piadas”
afirmam e reafirmam nas “entrelinhas do riso” que os negros são naturalmente inferiores
aos brancos. O pior não é tanto que alguém pense assim, branco ou negro, a
questão é travestir este posicionamento de humor, permitindo que ele prevaleça
sem a apresentação de qualquer argumento inteligente. Insulta porque é essencialmente
burro.
Comecei a pensar sobre isto depois
que um humorista escreveu que Dourados, cidade do Mato Grosso do Sul, é uma
espécie de República Gay. O Mato Grosso do Sul é um do Estados do Brasil que
mais recebeu gaúchos. Os gaúchos são alvos constantes de piadas que fazem
referência a uma homossexualidade latente. Há até algumas explicações
históricas oficiais sobre a “fama” da cidade de Pelotas.
Os gaúchos cultivam muito as suas
tradições; elas são arrastadas para qualquer lugar, porque fazem parte da sua
identidade. Não há como escapar delas sendo gaúcho. São os
brasileiros menos brasileiros, considerando a “brasilidade” como o caldeirão
das nossas diversas misturas e influências culturais. O Rio Grande tem uma
cultura mais específica, diferenciada do restante do país, moldada pelas
circunstâncias geográficas e históricas. Elas consolidaram um autoconceito do qual a maioria dos gaúchos
se orgulha e que até certo ponto lhes basta. A procedência vem antes da nacionalidade. E para angariar ainda mais antipatia é um Estado rico e bonito...
É claro que São Paulo é o único
Estado autossuficiente do Brasil, mas os paulistas, em especial os paulistanos,
além de serem mais cosmopolitas que os gaúchos, não ostentam as cicatrizes
separatistas. Tudo no Rio Grande reverência a Revolução Farroupilha. O restante do
Brasil parece não conviver bem com essa autoestima, mas ao mesmo tempo a desejam;
Creio que a maioria dos homens gaúchos sejam héteros (infelizmente...mais concorrentes para mim); o que me deixa
pensativo é que a condição gay ainda nos dias de hoje seja utilizada como meio de hostilizar os valores de um grupo. Não é o meu tipo de humor. Em
todo o caso, é sempre aquela verdade pampeira que passa de pai para filho: não
há como dizer do outro sem dizer de si mesmo.
(Enviado por farroupilha bagual, o cara de pau)