quinta-feira, 30 de julho de 2020

Farrapos Dourados



                     
       
              O humor é algo imprescindível  a nossa saúde mental. A pessoa que não consegue achar graça, especialmente de si mesma, não terá longevidade. No entanto, burrice não é humor; burrice é burrice!
             Muitas pessoas, inclusive os próprios humoristas, chamam de humor as “piadinhas” surradas que reforçam preconceitos. As que falam dos negros talvez sejam o exemplo mais gritante. Normalmente estas “piadas” afirmam e reafirmam nas “entrelinhas do riso” que os negros são naturalmente inferiores aos brancos. O pior não é tanto que alguém pense assim, branco ou negro, a questão é travestir este posicionamento de humor, permitindo que ele prevaleça sem a apresentação de qualquer argumento inteligente. Insulta porque é essencialmente burro.    
            Comecei a pensar sobre isto depois que um humorista escreveu que Dourados, cidade do Mato Grosso do Sul, é uma espécie de República Gay. O Mato Grosso do Sul é um do Estados do Brasil que mais recebeu gaúchos. Os gaúchos são alvos constantes de piadas que fazem referência a uma homossexualidade latente. Há até algumas explicações históricas oficiais sobre a “fama” da cidade de Pelotas.
            Os gaúchos cultivam muito as suas tradições; elas são arrastadas para qualquer lugar, porque fazem parte da sua identidade. Não há como escapar delas sendo gaúcho. São os brasileiros menos brasileiros, considerando a “brasilidade” como o caldeirão das nossas diversas misturas e influências culturais. O Rio Grande tem uma cultura mais específica, diferenciada do restante do país, moldada pelas circunstâncias geográficas e históricas. Elas consolidaram  um autoconceito do qual a maioria dos gaúchos se orgulha e que até certo ponto lhes basta. A procedência vem antes da nacionalidade. E para angariar ainda mais antipatia é um Estado rico e bonito... 
            É claro que São Paulo é o único Estado autossuficiente do Brasil, mas os paulistas, em especial os paulistanos, além de serem mais cosmopolitas que os gaúchos, não ostentam as cicatrizes separatistas. Tudo no Rio Grande reverência a Revolução Farroupilha. O restante do Brasil parece não conviver bem com essa autoestima, mas ao mesmo tempo a desejam;
             Creio que a maioria dos homens gaúchos sejam héteros (infelizmente...mais concorrentes para mim); o que me deixa pensativo é que a condição gay ainda nos dias de hoje seja utilizada como meio de hostilizar os valores de um grupo. Não é o meu tipo de humor. Em todo o caso, é sempre aquela verdade pampeira que passa de pai para filho: não há como dizer do outro sem dizer de si mesmo.
 
(Enviado por farroupilha bagual, o cara de pau) 

quarta-feira, 29 de julho de 2020

Sob o Signo do Impulso



        


               Escrevi o que se segue há algum tempo; não combina comigo. A minha zona de conforto reside na obediência. Se você também tem a lua em virgem não leia. Eu só escrevi por um impulso inevitável. 


Viva a vida a sua maneira;
Sacrifício algum vale a pena
Nesse lapso breve, esse sopro,
Entre o feto e a caveira.
Não é vida a vida que demanda esforço;
A força desfigura o traço perfeito;
Suave deve ser a vida,
Só o natural alcança o contentamento.
A tensão nos faz fractais;
E o único pecado é não ser inteiro; 
Vestir a pele dos outros;
Nos colorirmos todos iguais...     
Um monte de cacos esforçados!
Cravados na mortalha moral; 
Quantos estragos, meu Deus,
Quantos mais! 

Patrícia Ubert