O Rio nunca esteve no meu roteiro de viagem. Minha falta de interesse
pela cidade maravilhosa é muito anterior à guerra pela posse de suas favelas. Nunca
fui com a cara do Rio, com a sua energia excessivamente pulsante. Homens e
mulheres sarados demais; sexo demais; samba demais; agora, tiroteio demais.
Mesmo para alguém que deteste a rotina, o Rio é muito.
Desde a instalação da família real no Rio de Janeiro, em 1808, a cidade passou a ser
a favorita do império. Mais adiante o nosso cartão postal. Um dos poucos
motivos para um europeu despencar da civilização para este fim de mundo. O Rio
com suas belas matas, mulatas, e jovens prostitutas que saem quase pelo mesmo
preço de uma replica do Cristo Redentor.
Toda violência que assistimos
neste momento: criminosos indo de um lado para outro; incontáveis homicídios em
razão do controle do tráfico de drogas; latrocínios; estupros; não é um fato
específico do Rio de Janeiro, mas ao contrário, é uma tendência nacional.
O
Rio só continua sendo a nossa vanguarda, como tem sido desde a vinda da família
real; cabendo-lhe retratar e realçar as nossas tendências em primeira mão. Não
gosto do Rio, mas justiça seja feita, a cidade não é mais do que um superlativo
de como funciona, ou não funciona, quase tudo no país. Portanto, não podemos
pegá-la para cristo, depreciá-la como querem alguns.
Se no passado ela foi eleita pelos
nobres portugueses para representar a sua essência, na qual se incluíram os
conchavos, maracutaias, a leviandade com o compromisso e a ética, a corrupção
escrachada, enfim, a imbecilidade de uma corte fanfarrona, mística e bravateira, hoje,
a cidade maravilhosa continua sendo esta mesma vitrine. Ela expõe as mesmas
coisas pelos mesmos motivos. A diferença é que a corte misturou-se aos nativos
e escravos e agora tem endereço no Distrito Federal.
Aquele abraço!
(Este texto foi motivado pelos episódios de incêndios criminosos direcionados aos ônibus que faziam o transporte coletivo da cidade do Rio. Na época, o Bruno me escreveu que peguei pesado. Pode ser, mas ele continua valendo... É que os criminosos pegam muito mais.)