quarta-feira, 27 de setembro de 2017

"O Rio de Janeiro Continua Lindo..."

O Rio nunca esteve no meu roteiro de viagem. Minha falta de interesse pela cidade maravilhosa é muito anterior à guerra pela posse de suas favelas. Nunca fui com a cara do Rio, com a sua energia excessivamente pulsante. Homens e mulheres sarados demais; sexo demais; samba demais; agora, tiroteio demais. Mesmo para alguém que deteste a rotina, o Rio é muito.
Desde a instalação da família real no Rio de Janeiro, em 1808, a cidade passou a ser a favorita do império. Mais adiante o nosso cartão postal. Um dos poucos motivos para um europeu despencar da civilização para este fim de mundo. O Rio com suas belas matas, mulatas, e jovens prostitutas que saem quase pelo mesmo preço de uma replica do Cristo Redentor.   
          Toda violência que assistimos neste momento: criminosos indo de um lado para outro; incontáveis homicídios em razão do controle do tráfico de drogas; latrocínios; estupros; não é um fato específico do Rio de Janeiro, mas ao contrário, é uma tendência nacional. 
           O Rio só continua sendo a nossa vanguarda, como tem sido desde a vinda da família real; cabendo-lhe retratar e realçar as nossas tendências em primeira mão. Não gosto do Rio, mas justiça seja feita, a cidade não é mais do que um superlativo de como funciona, ou não funciona, quase tudo no país. Portanto, não podemos pegá-la para cristo, depreciá-la como querem alguns.
          Se no passado ela foi eleita pelos nobres portugueses para representar a sua essência, na qual se incluíram os conchavos, maracutaias, a leviandade com o compromisso e a ética, a corrupção escrachada, enfim, a imbecilidade de uma corte fanfarrona, mística e bravateira, hoje, a cidade maravilhosa continua sendo esta mesma vitrine. Ela expõe as mesmas coisas pelos mesmos motivos. A diferença é que a corte misturou-se aos nativos e escravos e agora tem endereço no Distrito Federal.
Aquele abraço! 
   
(Este texto foi motivado pelos episódios de incêndios criminosos direcionados aos ônibus  que faziam o transporte coletivo da cidade do Rio. Na época,  o Bruno me escreveu que peguei pesado. Pode ser, mas ele continua valendo... É que os criminosos pegam muito mais.) 

3 comentários:

  1. Gosto muito da cidade, tirando mar gelado!

    É uma pena mesmo a escalada da violência. Mas não surpreendente, como você disse, é a vanguarda nacional mesmo. Triste.

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  2. Bruno, devo dizer que houve uma autocensura neste novo texto. Algumas partes foram retiradas. Influência do Bruno Batista. Abraço.

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  3. O Rio de Janeiro continua lindo, assim diz a canção, parece que o Cristo de braços abertos sobre a Guanabara insiste em não ver as mazelas de seu povo. As vezes eu me pergunto, mesmo em face de tantas desgraças, como pode sua beleza natural insistir em brilhar tanto? O que acontece lá é apenas o reflexo dessa infeliz realidade que tem nos deixado cada dia mais cegos.

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