sexta-feira, 10 de julho de 2020

Sobre a Cegueira...





Assisti ao filme Ensaio Sobre a Cegueira há alguns anos; ele é baseado no livro do escritor português José Saramago. Na época achei bom, mas não me despertou a grandes análises.
Recentemente tenho martelado sobre o filme. O meu ensaio sobre a cegueira se aplica ao momento em que boa parte da humanidade se encontra mergulhada, sobretudo, nós brasileiros.  
A despeito de todo o atavismo registrado no filme, revelado por nossos instintos que atuam a serviço da sobrevivência, o meu enfoque particular revela-se na inversão de valores que ocorre quando um tipo específico, no caso os cegos, se torna a maioria e assume o controle. A personagem que enxerga precisa, por questões de sobrevivência, fingir que não vê.
Daí surge o conflito. Como se conduzir perante os acontecimentos que tendem a retirar todo o verniz da civilização? De algum modo a perda da visão equivale à perda dos valores morais e éticos que passam a ruir diante dos seus olhos, dos únicos olhos que enxergam... Ver quando a maioria não vê é trágico. Ver muito além do que a maioria vê deve ser insuportável!
Vivemos uma cegueira sem precedentes, seja por ingenuidade ou comodidade. Por isto proliferam tantos maliciosos nas religiões, política, literatura, em tudo ... Com o ambiente obscurecido alastra-se toda sorte de corrupção, charlatanismo e mau gosto.
 Os conceitos de bem e mal se embaralham nesta escuridão a ponto de não sabermos mais distinguir os vultos que nos cercam. Nesta confusão generalizada os que ainda veem têm um dilema crucial: fingirem-se de cegos ou resistir à hostilidade fatalmente destinada a quem vê?
A História nos mostra que muitos pagaram com o degredo ou com as próprias vidas quando resistiram. A questão é: vale a pena apontar coisas aos cegos? Os homens seriam mais felizes se deixassem as suas respectivas cegueiras? No filme, quando as pessoas voltam a enxergar a sensação de normalidade começa a se restabelecer, arrefecendo o caos.
Na vida real, se todos começassem a enxergar talvez se desse um caos de proporções muito maior do que o provocado pela cegueira.  No mínimo, muitos heróis, formadores de opiniões, líderes e autoridades respeitáveis, seriam encarcerados.
 Talvez o mais sensato seja pensar na cegueira como um mal menor para um planeta destinado à escuridão. É conformismo, mas todos os crucificados morreram em vão... Suas causas foram desvirtuadas e em nome delas estabeleceu-se mais trevas. Melhor e mais seguro ver De Olhos Bem Fechados, com a bela Nicole Kidman, um clássico.

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