Assisti ao filme Ensaio Sobre a Cegueira há alguns anos; ele é
baseado no livro do escritor português José Saramago. Na época achei bom, mas
não me despertou a grandes análises.
Recentemente tenho martelado sobre o filme. O meu
ensaio sobre a cegueira se aplica ao momento em que boa parte da humanidade se
encontra mergulhada, sobretudo, nós brasileiros.
A despeito de todo o atavismo registrado no filme, revelado por nossos
instintos que atuam a serviço da sobrevivência, o meu enfoque particular
revela-se na inversão de valores que ocorre quando um tipo específico, no caso
os cegos, se torna a maioria e assume o controle. A personagem que enxerga precisa, por questões de sobrevivência, fingir que não vê.
Daí surge o conflito. Como se conduzir perante os acontecimentos que
tendem a retirar todo o verniz da civilização? De algum modo a perda da visão
equivale à perda dos valores morais e éticos que passam a ruir diante dos seus
olhos, dos únicos olhos que enxergam... Ver quando a maioria não vê é trágico.
Ver muito além do que a maioria vê deve ser insuportável!
Vivemos uma cegueira sem precedentes, seja por ingenuidade ou
comodidade. Por isto proliferam tantos maliciosos nas religiões, política, literatura, em tudo ... Com o ambiente obscurecido alastra-se toda sorte de
corrupção, charlatanismo e mau gosto.
Os conceitos de bem e mal se
embaralham nesta escuridão a ponto de não sabermos mais distinguir os vultos
que nos cercam. Nesta confusão generalizada os que ainda veem têm um dilema
crucial: fingirem-se de cegos ou resistir à hostilidade fatalmente destinada a
quem vê?
A História nos mostra que muitos pagaram com o degredo ou com as
próprias vidas quando resistiram. A questão é: vale a pena apontar coisas aos
cegos? Os homens seriam mais felizes se deixassem as suas respectivas
cegueiras? No filme, quando as pessoas voltam a enxergar a sensação de
normalidade começa a se restabelecer, arrefecendo o caos.
Na vida real, se todos começassem a enxergar talvez se desse um caos de
proporções muito maior do que o provocado pela cegueira. No mínimo,
muitos heróis, formadores de opiniões, líderes e autoridades respeitáveis,
seriam encarcerados.
Talvez o mais sensato seja pensar
na cegueira como um mal menor para um planeta destinado à escuridão. É
conformismo, mas todos os crucificados morreram em vão... Suas causas foram
desvirtuadas e em nome delas estabeleceu-se mais trevas. Melhor e mais seguro
ver De Olhos Bem Fechados, com a bela
Nicole Kidman, um clássico.
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