Poetas, ao menos os bons, escrevem para os outros nunca para eles próprios. Eu sempre escrevo para mim. Eu sou a única razão que tenho para escrever, explico:
Sou cética quanto a vidas passadas e futuras, mas admito que tenho a fantasia de me ler na condição de outra pessoa; vivendo outra vida; em outra época...A que conclusões eu chegaria sobre mim por meio do que escrevi? Como eu me leria, no sentido mais profundo.
Assim, escrevo para alguém que seria um dia, para esta pessoa desconhecida para a qual também seria uma desconhecida. É esta saudade antecipada de tudo que estaria por vir que me motiva a escrever.
Para nós, em qualquer tempo, Fauzi Arapi...
Eu vou te contar que você não me conhece
E eu tenho que gritar isso, porque você está surdo
E não me ouve
A sedução me escraviza a você
Ao fim de tudo, você permanece comigo
Mas preso ao que eu criei
E não a mim
E quanto mais falo sobre a verdade inteira
Um abismo maior nos separa
Você não tem um nome, eu tenho
Você é um rosto na multidão
E eu sou o centro das atenções
Mas a mentira da aparência do que eu sou
E a mentira da aparência do que você é
Porque eu
Eu não sou o meu nome
E você não é ninguém
O jogo perigoso que eu pratico aqui
Ele busca chegar ao limite possível de aproximação
Através da aceitação da distância e do reconhecimento dela
Entre eu e você existe a notícia que nos separa
Eu quero que você me veja a mim
Eu me dispo da notícia
E a minha nudez, parada, te denuncia e te espelha
Eu me delato
Tu me relatas
Eu nos acuso e confesso por nós
Assim me livro das palavras
Com as quais você me veste