No final da tarde a minha avó passava a mão em uma caixa de velas e me levava com ela para acendê-las no cemitério; um presente para as almas. Só a Dona Luciana para se impor ao Silvio Santos nas minhas memórias de domingo... A seguir o texto de Ana:
Silvio Santos se foi… felizmente, em um sábado. Seria inapropriado partir no domingo, afinal esse dia é “de sorrir e cantar.”
Eu não sei vocês, mas na
infância eu “morria” (sim, essa hipérbole mesmo) de medo do Silvio Santos
morrer! Eu não poderia superar. Como deixar de ver o meu pai dando gargalhas
com o Pica-Pau e o Papa Léguas? Ele (meu pai, não o Silvio) ria a cada explosão
e sempre que o Coyote era esmagado por uma bigorna ou por um caminhão. Ah, meu
pai, tão politicamente incorreto (trocadilho mesmo, só para que ele não seja
julgado por gerações recentes) e tão feliz!!! O Silvio - eu só o chamava de
Silvio Santos - lembrava o meu pai - nada politicamente correto!
Passado algum tempo, o Silvio estava presente todo domingo - e alivia a falta do meu pai. Com o Silvio, eu comi muito macarrão e frango frito na casa da minha avó. Para minha infelicidade, eu me despedia dele por conta da maldita corrida ou do futebol, que os tios amavam! Mas voltava e tinha o "Roletrando" no lanche da tarde e o Show de Calouros ao jantar. Eu odiava o Pedro de Lara - e hoje me identifico tanto com ele! Eu rezava para que o Silvio morresse quando eu conseguisse viver sem ele! E foi assim. Ele morreu e eu estou criada, mulher feita! Eu aprendi com ele o valor do trabalho, o quanto é bom compartilhar o que se tem. Quantos artistas ele criou? Quantos ele nunca nem mencionou que ajudou!
Ele se foi no sábado, mas eu percebo que ele fica como patrimônio histórico brasileiro, para mim, quase um familiar! Silvio se fez imortal, por isso muitos não choram hoje! Isso me faz esperar o domingo, porque domingo “é dia de alegria, de sorrir e de cantar!”.
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