Hoje cheguei em casa mais tarde do que de
costume. Fui comer alface. Paguei noventa reais por um punhado de alface...
Assim que cheguei, antes de “malhar” as calorias que eu nem havia consumido, o
telefone tocou. Aquele sotaque paulistano bem característico, nada contra,
aliás, até gosto muito...
Era uma mulher, uma jovem, oferecendo alguma coisa, sei
lá... Um cartão, uma vantagem, um bom negócio qualquer! Como se bons negócios
viessem com facilidade! Ela sabia o meu nome, CPF e horários. Tive
a sensação de que sabia até que eu havia comido alface!
Depois, digitando meu nome no Google, verifiquei que há
muitos registros do que pensei em algum momento por aí! Pela primeira vez, por
mais idiota que possa parecer, me assustei! Não com a exposição em si, mas com
o fato de não ter me dado conta de que trata-se de uma exposição, que é
incrivelmente articulada...Estamos todos nus neste imenso jardim das delícias,
apelidado rede.
Achei que fosse um nu ingênuo, divertido e seguro. Mas, a
“brincadeira” em algum momento reverte-se contra! Um grande pecado virtual (1ª
parte do tríptico de Bosch, o paraíso...). Todo mundo pode
ter acesso à vida alheia, basta querer! Estamos nos despindo... E despindo
os outros! Que orgia! (2ª parte do tríptico. Confere lá...)
A quem serve tudo isto? De verdade! Estou com a estranha
sensação de que tem algo mais que ainda não percebi! Exposição em massa... Irei
colocar na pauta das minhas reflexões, além de Bosch. Quem sabe eu faça mais
conexões? Estamos na “era da falta de privacidade”; como este fato pode ajudar a manutenção da Democracia ou, ao contrário, facilitar a consolidação de grupos ditatoriais?
Certeza é que estou na rede! Fisgado! Cercado por um
monte de alfaces! Poderia ser facilmente mastigado, engolido, e mandado para o
Inferno, caso alguém quisesse (O inferno é a 3ª parte do tríptico).
Acabei percebendo três coisas: rede= dossiê; modismo
natureba= pagar por fome; paulistana depois do expediente= desliga sem falar
nada, porque é fria! E todas estas coisas, por mais estranho que pareça,
estão ligadas! Como no tríptico “O Jardim das Delícias Terrenas”, formando
afinal uma pintura única...
(O tríptico do pintor holandês Hieronymus Bosch,
intitulado O Jardim das Delícias Terrenas, é sem dúvida a sua obra
mais interessante e controversa) .
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