quarta-feira, 20 de julho de 2016

Sobre a Felicidade e o Repuxo

         Quero desabafar. Preciso com alguma urgência escrever o quanto pessoas felizes me dão nos nervos, em especial, quando estou com TPM. Porém, antes de continuar faço duas ponderações: só estou escrevendo porque não achei nenhum texto da Fernanda Young para postar- pessoa por quem tenho muita simpatia. Ela certamente deve ter algo de muita qualidade sobre o tema. Também preciso deixar claro que não me refiro aos que estão felizes em algum momento do dia ou da vida, mas, aqueles 100% felizes em 100% da vida.
Se o feliz em questão tiver voz mansa, piora. Ou seja, felicidade acompanhada de mansuetude agrava mais... Se for feliz, tiver voz mansa e me chamar de querida, meus nervos começam a se contrair, um repuxo só... Se tiver todas essas virtudes e ainda me mandar por nas mãos de Deus no final da conversa, fico à beira do infarto. Como geralmente o infarto não se consuma tendo ao sarcasmo, que normalmente o feliz não entende, ou entende e releva- outra coisa irritante é gente que perdoa tudo.
Pode parecer que eu seja uma pessoa mal-humorada, não sou. Em regra sou divertida. É que acima do humor aprecio a sinceridade, coisa inconciliável com um semblante eternamente feliz. Alguém poderia me perguntar: mas, por que a felicidade do outro te incomoda tanto, ainda que seja “fake”? Pois é... Não incomoda! O que incomoda é o desejo que os 100% felizes tem de contaminar todos a sua volta com a suposta felicidade que carregam.
           O sujeito percebe que você não está para firulas e fica te cutucando com vara curta: “O que você tem? Ânimo!”; “Por que tá tão calada?”; “Vamos sorrir! Você tem um sorriso tão bonito!”. Diante desse bombardeio costumo fazer um esforço sobre-humano para entortar o canto da boca, de modo que pareça um sorriso, para ver se o feliz me deixa em paz. O problema é que os felizes não se contentam com pouco; eles querem no mínimo dos dentes incisivos centrais aos caninos.
        Não tenho nada contra a felicidade, mas admito a infelicidade e o mau humor como estados que fazem parte da minha natureza. Aliás, não tenho nada contra nada desde que haja espaço para tudo . Talvez por esta razão seja avessa ao que as religiões ensinam. A ideia de um soberano imutável me causa receio. Uma das minhas passagens favoritas da Bíblia é quando Jesus deixa de lado os bons modos e parte para cima dos cambistas do templo, virando mesas e distribuindo chicotadas.
Em um mundo praticamente obrigado à felicidade só espero ter garantido o meu espaço para destoar de vez em quando dos sempre sorridentes, animados e elegantes. Como bem disse Fernanda Young aos passarinhos que rondavam a janela do seu quarto: “Vão cantar lá em Fernando de Noronha!”.

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